quinta-feira, junho 23

entorpecer para sublimar

inalação vadia. vagabunda. usara todas as suas armas - seu cheiro, seu brilho - até conseguir me domar, dopar. fez-me cair aos poucos. vermelha que era e rosada como estava, me despiu. levou o pudor consigo. minha coragem de continuar e fiquei esperando-a voltar.

mas não. bateram na porta uma, duas, três vezes antes de entrar. velhos me colocaram numa cama. eram brancos, diferentes dela. eram todos carecas bonitos, como o avô da minha lembrança. fiz muito pouco pra demostrar amor. atingi poucos objetivos, mas sempre olhava-o com carinho. mas esse carinho de outrora, havia enterrado e esquecido (era preciso apagar certos resquícios do passado). como lembrei-me dele assim? junto com a dor e a solidão, foi trazido pela morte. em sua anunciação todas as vidas que fui, qualquer pedaço de mim semeado em outras épocas e meus sentimentos os mais profundos pareceram brotar em ritmo acelarado, mesmo que sem adubo, ainda que apenas para serem lembrados. nessa morte tudo renasceu em meio às pedras-árvores e galhos. talvez meu avô fosse o tronco!

abriram meus olhos: "siga a luz". havia um caminho brilhante que acompahei fazendo movimentos com a cabeça. eu não estava mais na minha casa (mas fazia tempo que isso acontecera, não foram eles os culpados, sim minha distância de). ninguém mais! nem a vermelha sedutora. nem mesmo eu estava ali. fosse o que foi, provavelmente aconteceu como queria. só meus olhos viam-me dormir para o nunca.