Surtos e Estafas
Surpreendo-me com a abundância de limites sectários. Quando a conjuntura é desfavorável, o mais normal é qualquer percepção ser sentida além das fronteiras existentes. Isso porque, ao se ultrapassar apenas um dos limites impostos pelo próprio organismo, a mente ativa uma predisposição à irritação ou, como o senso comum denomina tal situação, a pessoa fica À Flor da Pele
Communication
Dando continuação às questões indagadas no capítulo anterior, fiquei imaginando quando se pode chamar a comunicação por esse nome. Li certa vez que comunicação é a interação entre mentes. Mas outro dia li que a comunicação pode se dar a nível interpessoal, ou seja, a pessoa se comunica com ela mesma. Ao pensar eu estaria comunicando-me comigo. Como se eu estivesse subdividida. Não entendi essa questão. Porque ela parece conter uma crença dualista a respeito dos indivíduos, generalizando a questão do auto conhecimento.
e quanto às palavras?
Será que chegaremos a um ponto no qual ninguém mais terá de escrever à mão uma única palavra?
Quantos românticos serão martirizados e filósofos arruinados?
O contato com a palavra própria, a palavra que afirma por quem escreve revela aquele que pensa tais formas.
Será que há aprendizado sem escrita?
as três coisas
eu entro em suspensão
aí três coisas saem de órbita para vir para direto em meu pensamento:
.:os abraços, é eu gosto deles mais do que deveria
.:o(s) desconhecido(s), porque eu posso fazer disso o que eu quiser
.:indignação, ou raiva, ou frustração. A gente nunca acha a palavra certa para expressar a coexistência de sentimentos
e as letras, palavras... o que elas significam mesmo?
não
Um simples
não responde a maioria das perguntas do mundo. Porém a força dessa resposta é insuficiente para fazê-las parar. Tudo porque a memória é fraca e os dias passam rápido. Como se as indagações estivessem extintas.
E o problema fica acumulado debaixo do tapete. Os ignorantes estão impossibilitados de enxergar, ou mesmo de sentir alguma saliência. As ideologias também. Elas se encarregam de cegar a parte letrada da população. E tudo é facilitado para a elite de ambos: problemas e tapetes.
Aí perguntaram que tipo de capitalismo é esse. Mas morreram. Esquecem-se de que indagar e viver estão dissociados. Até que, na marcha fúnebre, choram a resposta:
não.
Cinco de janeiro de 2004
a mentira do nada
é mentira.
não acho que uma pessoa possa ter nada a falar. às vezes eu prefiro ficar apenas ouvindo, como se estivesse de um outro lado escutando o que não é dito. e muitas pessoas dizem algumas coisas sem expressar em palavras.
eu estava indo para o almoço de dias das mães e percebi que eu também costumo significar um bocado e coisas mesmo sem mexer um dos olhos. fiquei pensando que provavelmente apenas o fato de ficar estática suscitaria perguntas e estimulariam o imaginário das pessoas: "oush... o que é que guaraná tem, hein?!" mas, não. nada que fizesse alguém levantar a voz numa entonação duvidosa.
por que as pessoas podem ser tão diferentes mesmo sendo elas mesmas?
